A Polícia Federal concluiu um dos inquéritos mais aguardados dos últimos anos e indiciou o vereador Carlos Bolsonaro por participação em um esquema ilegal de monitoramento de autoridades, conhecido como Abin paralela. O caso envolve ainda outras figuras importantes do governo anterior, como Alexandre Ramagem e membros da Agência Brasileira de Inteligência.
O relatório, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, detalha como uma estrutura clandestina teria sido usada para espionar adversários políticos durante a gestão de Jair Bolsonaro, pai de Carlos. Segundo a Polícia Federal, o grupo agia de forma coordenada para acessar ilegalmente dados de localização, produzir dossiês e monitorar autoridades públicas sem autorização judicial.
A investigação contou com colaboração de diversos órgãos e durou mais de dois anos. As informações foram divulgadas por fontes como G1, CNN Brasil, GloboNews e UOL, que acompanharam de perto os desdobramentos da operação.
Como surgiu o caso da Abin paralela
As primeiras suspeitas sobre uma estrutura de inteligência operando à margem da legalidade vieram à tona em 2023, quando reportagens revelaram o uso do software FirstMile, adquirido pela Abin durante o governo Bolsonaro. Com esse programa, era possível rastrear celulares e acessar dados sigilosos em tempo real, sem ordem judicial.
Segundo a Polícia Federal, essa ferramenta foi usada indevidamente para monitorar ministros do Supremo Tribunal Federal, parlamentares, jornalistas e servidores públicos. O esquema teria operado com conhecimento e participação de integrantes próximos ao então presidente Jair Bolsonaro.
Carlos Bolsonaro, segundo o relatório da PF, integrava o chamado núcleo político, responsável por direcionar o uso das informações obtidas para alimentar campanhas de desinformação, ataques a opositores e estratégias digitais do chamado gabinete do ódio.
A investigação apontou que houve utilização de perfis falsos, redes coordenadas e produção de conteúdos com base em informações obtidas de forma ilegal. Ainda de acordo com a Polícia Federal, essa estrutura operava de forma paralela à Abin institucional e contava com recursos, pessoal e equipamentos desviados da função pública.
Quem mais foi indiciado junto com Carlos Bolsonaro
Além de Carlos, foram indiciadas outras 30 pessoas. Entre elas está o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e atual pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ramagem é apontado como um dos idealizadores do funcionamento irregular da agência.
Outro nome citado é Luiz Fernando Corrêa, atual diretor da Abin, que teria tentado impedir o avanço das investigações. Também foram indiciados servidores da Abin, militares e ex-assessores que integraram o governo anterior.
A Polícia Federal indicou que os crimes investigados incluem organização criminosa, violação de sigilo, interceptação ilegal de dados, abuso de autoridade e uso indevido de função pública.
O relatório também sugere que Jair Bolsonaro pode ter se beneficiado diretamente do esquema, embora ainda não tenha sido formalmente indiciado neste caso específico. A Procuradoria-Geral da República deve avaliar se há elementos suficientes para incluir o ex-presidente no processo.
Repercussões políticas e jurídicas do caso
Após a divulgação do relatório, Carlos Bolsonaro se pronunciou em suas redes sociais dizendo ser vítima de perseguição e negou qualquer envolvimento com atividades ilegais. Ele afirmou que o inquérito tem motivação política e que provará sua inocência.
Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro também criticaram a investigação e disseram que o indiciamento de Carlos é uma tentativa de prejudicar a família Bolsonaro em ano pré-eleitoral.
Do ponto de vista jurídico, especialistas apontam que o indiciamento não significa condenação, mas sim que há indícios suficientes para que o Ministério Público Federal analise a possibilidade de denúncia. Se a PGR apresentar denúncia e o Supremo aceitar, Carlos e os demais indiciados se tornarão réus.
O caso reacendeu o debate sobre a politização dos órgãos de inteligência no Brasil. Juristas ouvidos pela Globo e pela CNN Brasil alertam que o uso de estruturas do Estado para fins particulares representa uma grave ameaça à democracia e pode configurar crime de responsabilidade.
A Abin, por meio de nota oficial, declarou que colabora com as investigações e que vai revisar seus procedimentos internos. O governo federal, por sua vez, afirmou que respeita a autonomia da Polícia Federal e aguarda a conclusão dos trâmites legais.
Resumo
O indiciamento de Carlos Bolsonaro pela Polícia Federal marca mais um capítulo importante nas investigações sobre o uso ilegal da Abin para fins políticos durante o governo anterior. O relatório aponta a existência de uma estrutura clandestina de espionagem, que teria operado à margem da legalidade e monitorado adversários do então presidente Jair Bolsonaro.
Carlos é acusado de integrar o núcleo político do esquema, que usava dados obtidos ilegalmente para influenciar redes sociais e campanhas de desinformação. Junto com ele, foram indiciados Ramagem, servidores da Abin e outros aliados políticos.
O caso agora está nas mãos da Procuradoria-Geral da República, que poderá denunciar os envolvidos ao Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso, as reações políticas mostram que o caso terá desdobramentos importantes nos próximos meses, especialmente com a aproximação do calendário eleitoral.